O campo geotérmico dos Geysers del Tatio fica a aproximadamente uma hora e meia de San Pedro do Atacama, a uma altitude superior a 4300 metros, e é o terceiro maior do mundo (campo geotérmico: local que possui um fluxo de energia geotérmica – energia obtida a partir do calor proveniente do interior da Terra – superior à média, podendo ser utilizado para a produção de energia útil).
Porém, não trata-se daquele tipo de gêiser que vemos em filmes americanos ou até mesmo em desenhos animados, onde de tempos em tempos sai um enorme jato de água fervente de um buraco, atingindo diversos metros de altura. Aqui, as colunas são de vapor d’água. Mas isso não faz com que o visual do local deixe de ser impressionante, até mesmo porque existem diversos pontos de colunas de vapor, dos mais variados tamanhos.
Começamos o dia bem cedo, com a agência nos buscando nas hospedagens entre 4:30 e 5:00 da manhã. A estrada é bastante sacolejante e mesmo tendo madrugado para o passeio, não dormi quase nada no caminho. Aproveitei para ir tomando chá e mascando folhas de coca.
Chegamos na entrada do parque dos Geysers del Tatio nos primeiros sinais de claridade do dia. Temperatura neste momento: -10º. Sim, não é erro de digitação: dez graus negativos, em pleno janeiro. Brrrrr.
Eu tinha lido diversos relatos de pessoas que foram para os Geysers del Tatio e passaram muito, mui-to frio. Decidi vestir praticamente tudo que eu tinha levado na bagagem e deu certo: não passei frio! Tudo bem que eu estava parecendo o boneco da Michelin, com dois fleeces por baixo do casaco, três calças e três pares de meias, além de luvas, touca e manta 😀 , mas o que importa é que eu estava quentinha. 🙂
O motivo para este passeio ser operado tão cedo é muito importante: os jatos de vapor ficam ativos o dia inteiro, mas é no momento mais frio do dia – justamente minutos antes do sol aparecer – que o contraste entre a temperatura do vapor (cerca de 85º) e a do ambiente externo deixa as fumarolas mais visíveis.
Começamos a parte guiada do tour, por entre os gêiseres. Tivemos a sorte de pegar novamente a Sheryl, a mesma guia excelente do passeio por Salar de Atacama, Piedras Rojas e Lagunas Altiplânicas no dia anterior. Ela foi explicando que a atividade vulcânica da região aquece a água subterrânea, aumentando a pressão e fazendo com que o vapor busque saída para a superfície. Novas fissuras aparecem de tempos em tempos, inclusive alguns lugares estão demarcados sem aparentemente haver gêiseres ali, mas são pontos que estão prestes a abrir e formar um gêiser novo.
O caminho onde é permitido transitar é demarcado por pedras vermelhas. Mais do que manter-se neste caminho por educação e respeito ao meio ambiente, é questão de segurança própria. Infelizmente já ocorreram acidentes fatais com pessoas que ultrapassaram essas marcações, tanto por inconsequência como por descuido. Redobra a atenção e fica próximo ao teu guia que não haverá problemas.
Passamos por diversos diferentes tipos de jatos, baixos e altos, estreitos e largos, alguns expelem vapor constantemente enquanto outros são cíclicos, e até mesmo alguns onde vemos um pouco de água em ebulição.
O sol começou a surgir por detrás das montanhas e a paisagem, que já era incrível, ficou mais surreal ainda. Estarmos em uma espécie de vale, cercado por morros e vulcões, aumentou a sensação de estarmos em outro planeta ou, no mínimo, em um cenário de filme de ficção científica.
Depois de um tempo com a guia, chegamos em uma parte onde os gêiseres estão mais espaçados e tivemos um tempo livre para explorar por conta. Ela voltou ao nosso microônibus para preparar o café da manhã, e quem quisesse poderia se banhar na piscina de águas termais.
Neste momento, a temperatura ambiente era de -2º, e a da água, entre 25 e 30º. Até levamos as roupas de banho (vai que desse vontade de entrar na piscina), mas como já prevíamos, não encaramos. Somos friorentos assumidos. 😀
Tem um vestiário ali disponível para quem tomou banho poder trocar de roupa.
Ficamos andando mais entre alguns jatos de vapor bem altos.
Uma das recomendações para prevenir o mal de altitude é evitar bebidas alcoólicas. Até então estávamos nos sentindo super bem em nossa estadia no Atacama e na noite anterior o Rodrigo e eu tomamos uma garrafa de vinho. Pois nessa altura do passeio, não sei se foi o vinho da noite anterior, a estrada sacolejante, a altitude em si (apesar de termos chegado a uma mesma altitude no dia anterior), uma hipoglicemia por ainda não ter comido nada, ou todas as alternativas anteriores , mas comecei a me sentir mal (enjoo e um pouco de tontura).
Retornamos ao microônibus e nosso café da manhã estava servido. Assim como no passeio do dia anterior, a refeição estava bem gostosa. Depois de comer, entrei no micro e fui me sentar, pois meu mal estar não tinha passado. O motorista notou que eu não estava bem, chamou a guia e ambos começaram a cuidar de mim. Mediram minha saturação de oxigênio, que estava excelente (portanto não era efeito da altitude) e minha pressão, que estava baixa. A Sheryl preparou um café preto (solúvel) bem forte e sem açúcar e fez eu tomar tudo de uma vez só. Credo, que coisa ruim! Comecei a melhorar, provavelmente só para não ter que tomar novamente aquele troço 😀 . Brincadeiras à parte, eles foram muito cuidadosos e atenciosos comigo e até o fim do passeio me perguntaram diversas vezes como eu estava me sentindo e se eu estava melhor.
Saindo do campo dos Geysers del Tatio, fizemos uma parada em Vado Putana. É uma parte mais larga do Rio Putana, um lugar bastante surpreendente no meio da aridez do deserto. Muito verde, aves e algumas vicunhas. Caminhamos pela curva da estrada, com um vulcão completando a paisagem ao fundo, escutando somente o barulho da água do rio correndo e de vez em quando alguma ave. Os visitantes conversavam baixinho, acho que meio arrebatados com aquele cenário inesperado. Não que seja uma atração imperdível e que valha a viagem por si só, mas ficamos positivamente surpresos.
A última parada do passeio foi no minúsculo povoado de Machuca. Além das construções todas em adobe, incluindo a fofinha igreja do século XIX, as atrações do lugar são o churrasquinho de lhama e a empanada (no caso, um pastel) de queijo de leite de cabra.
Eu já estava 99% melhor do meu mal estar e não quis perder a oportunidade de experimentar essas iguarias. Compramos um de cada para compartilhar, ambos estavam bem gostosos e temperados.
Aproveitamos a parada também para usar o banheiro do local e tirar as roupas térmicas, pois a temperatura já tinha subido consideravelmente. Tivemos mais um tempinho para caminhar pelo povoado e subir até a igreja, e logo iniciamos o retorno para San Pedro do Atacama.
Chegamos no comecinho da tarde, sob um sol de rachar. Em poucas horas, fomos dos -10 aos 30º. Mas eu não pensaria duas vezes se tivesse que encarar novamente a amplitude térmica e a altitude, além de ter que madrugar 😛 , para ir nesse lugar que foi um dos mais peculiares que conhecemos na região.
Resumo das informações práticas:
- Agência: Atacama Connection
- Valor: 15.000 pesos chilenos por pessoa
- Ingresso: 10.000 pesos chilenos por pessoa
- Importante levar: roupas para muito frio, mas também para calor; roupa de banho, toalha e chinelos para quem pretende tomar banho na piscina de águas termais; protetor solar, óculos escuros, água.
Este passeio aconteceu em 23 de janeiro de 2018.
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