Tour Astronômico – Atacama

O Tour Astronômico foi uma das experiências mais sensacionais que tivemos no Atacama.

O céu do deserto do Atacama é algo absolutamente incrível. Clima árido, altitude, poucas nuvens e baixa poluição luminosa resultam em um local excepcional para observação de estrelas.

Em virtude disso, se tornou um passeio popular para quem viaja para lá o tal tour astronômico. Como brincou nosso amigo Volmério: “vamos passear pelas estrelas?” 😀 . 

Para quem pretende incluir o Tour Astronômico no seu roteiro, ressalto dois pontos importantes: 1º ele não ocorre em período de lua cheia, pois o céu fica muito claro, e 2º não ocorre em noites nubladas, então é recomendável agendá-lo para os primeiros dias da permanência em San Pedro do Atacama, pois em caso de cancelamento ainda há tempo para realizá-lo.

Existem algumas agências que estão oferecendo esse passeio, mas fizemos reservas antecipadas na mais famosa delas, a Spaceobs. Seria necessário passar na sede da agência na tarde do dia do passeio para confirmar se o tour aconteceria, e caso afirmativo, realizar o pagamento de CLP 25.000 por pessoa.

Nós já fomos recebidos na região do Atacama com um céu de cair o queixo. Saímos do aeroporto de Calama à noite e, durante o deslocamento até San Pedro do Atacama, ficamos a maior parte do tempo com a cabeça encostada na janela do microônibus e com os olhos para cima. Muito se fala sobre a visibilidade do céu por lá, mas nada se compara a chegar e ver pessoalmente.

Quando fomos fechar os demais passeios na agência Atacama Connection, eles nos ofereceram o tour astronômico. Perguntamos qual era a empresa que o fazia, e o vendedor disse que era “no próprio observatório astronômico” 🙄 , parecia que a observação seria feita na própria sede do ALMA (falo mais sobre ele aí embaixo). Sabíamos que não, mas também pensamos que não tinha como um tour destes ser ruim, a julgar pelo céu espetacular que vimos na estrada vindo do aeroporto. Fechamos com eles no “pacotão” de passeios (acabou custando CLP 17.000 por pessoa) e cancelamos a reserva com a Spaceobs.

Nos buscaram na sede da Atacama Connection e ainda passamos em um hotel para pegar um grupo de austríacos, e depois seguimos até o local de observação, que fica afastado uns 15 minutos da cidade.

Nosso grupo tinha ao todo umas 14 pessoas. Sentamos todos ao redor do telescópio, ao ar livre. Eles emprestaram uma coberta para cada um, mas recomendo ir bem agasalhado.

Basicamente, o guia explicava algo sobre determinada estrela ou constelação, e então o grupo se revezava para olhar no telescópio o que estava sendo apresentado. Pode parecer um pouco entediante, mas enquanto todos iam se alternando no equipamento, o guia ia acrescentando informações das mais diversas. E mais, era impossível parar de olhar para cima. Nem era preciso um telescópio para se sentir mergulhado no universo.

Além do telescópio, o guia utilizava um laser verde para apontar para os corpos celestes que ele queria mostrar. Perguntamos sobre o alcance daquele laser, e ele disse que era “virtualmente infinito”. Que curioso!

Ao todo, observamos aproximadamente uma dezena de pontos no espaço, entre estrelas, constelações e nuvens (como a de Magalhães, por exemplo). Sem contar as estrelas cadentes que vimos nesse período.

Importante: deixem para tirar fotos como as aí de cima quando a observação acabar! Um dos austríacos tirou uma foto – com flash! – enquanto eu estava olhando no telescópio e eu fiquei, literalmente, cega por uns segundos. Ficamos o tempo todo na escuridão e qualquer luminosidade é bastante incômoda.

Continuando. Deu também para perceber perfeitamente o céu se modificando em função da rotação da terra. Quando começamos a observação, o Cruzeiro do Sul estava bem perto do horizonte, e quando terminamos, já estava bem alto. Foi falado sobre as diferentes constelações que podemos ver entre verão e inverno (Escorpião, por exemplo, não estava visível) e entre o hemisfério norte e o hemisfério sul (os austríacos estavam bem intrigados por não estarem vendo estrelas que eles costumam ter no seu céu).

Ao final do tour astronômico, não bastasse estarmos maravilhados com tudo o que vimos e todas as explicações que ouvimos, fomos surpreendidos com um presente: eles fizeram uma foto nossa com o céu maravilhoso de fundo, sem contar com o simpático chocolate quente acompanhado de bolo que já tinham nos servido.

Meus amigos, que passeio! Es-pe-ta-cu-lar! É uma das coisas imperdíveis a se fazer no Atacama e vale conferir o calendário lunar antes de marcar a viagem para lá, para não coincidir com a lua cheia.

Resumo das informações práticas:

• Agência: vendido pela Atacama Connection, mas operado pela Astronomic Tour
• Valor: 17.000 pesos chilenos por pessoa
• Levar: agasalhos
• Importante: não ocorre em período de lua cheia nem em noites nubladas

 Sobre o ALMA

O ALMA – Atacama Large Millimeter/submillimeter Array, é um rádio-observatório construído e utilizado por países da Europa, da Ásia Oriental e da América do Norte em cooperação com o Chile.

Possui 66 antenas: 54 de 12 metros de diâmetro e 12 de 7 metros de diâmetro, dispostas em configurações específicas com separações que vão de 150 metros a 16 quilômetros. O radiotelescópio combina os sinais provenientes de cada uma, funcionando como se fossem um único telescópio gigante do tamanho do conjunto inteiro, mais potente do que qualquer antena individual que se possa construir.

ALMA observa a luz invisível aos olhos, que é emitida naturalmente pelo Universo em ondas compridas, uma porção do espectro electromagnético que permite indagar o “Universo frio”, que não é captado pelos telescópios ópticos e é fundamental para conhecer como se formam as estrelas e os planetas. As ondas de baixa frequência são melhor recebidas em maior altitude e em um clima seco. O vapor de água existente na atmosfera absorve essas ondas, dificultando sua captação. Por isso que as antenas do ALMA foram instaladas em uma das zonas mais áridas do mundo: o deserto do Atacama. Devido a sua secura, grande altitude, poucas nuvens e escassez de contaminação luminosa e de interferência de rádio das cidades, este deserto é um dos melhores lugares do mundo para observações astronômicas. A isso se soma o fato que a superfície é suficientemente ampla e plana para a distribuição das antenas.

Para conformar as imagens é necessário um poder computacional colossal. Os sinais provenientes de cada par de antenas – existem 1225 pares possíveis somente no conjunto principal de antenas (50) – devem ser matematicamente comparadas milhares de milhões de vezes por segundo. Seriam necessários milhões de computadores portáteis para poder realizar a mesma quantidade de operações por segundo que o ALMA! Por isso, se construiu um dos supercomputadores mais rápidos do mundo, o Correlacionador do ALMA. As ondas de rádio podem ser captadas 24 horas por dia, não somente à noite como as visíveis, portanto o ALMA não descansa.

Todas as informações acima foram retiradas do site oficial do Alma Observatory, que aliás, vale conferir – é uma viagem à parte!)

Somente quando chegamos em San Pedro do Atacama fiquei sabendo da possibilidade de visitar o Centro de Apoio Operacional do ALMA. Percebam, não trata-se de observação de estrelas (pois como colocado aí em cima, seus telescópios não captam luz visível a olho nu), mas de conhecer um pouco das instalações e de como as pessoas trabalham neste local. Por motivo de segurança, a região onde se encontram as antenas, a 5000 metros de altitude, não é visitada. De qualquer forma, fiquei com muita curiosidade em participar, mas já não tinha mais como encaixar no nosso roteiro. Fica como desculpa para voltar. 😛

As visitas são gratuitas e acontecem aos sábados e domingos, mediante prévia inscrição neste link.  O ônibus parte às 9:00, da esquina da Calle Tumisa com Av. Pedro de Valdivia, quase em frente ao “Pueblo de los Artesanos”, e retorna às 13:00. Alguns guias de outros passeios que fizemos disseram que dá para tentar uma vaga de última hora, chegando com um pouco de antecedência para ver se algum dos inscritos não comparece. É preciso levar um documento de identidade.

Nosso Tour Astronômico com a Astronomic Tour foi realizado em 21 de janeiro de 2018.

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