Como muitas coisas na Terra do Sol Nascente, os banhos japoneses são muito únicos e próprios da sua cultura. Vou falar neste post sobre alguns dos seus tipos, algumas curiosidades relacionadas a eles e como foram as minhas experiências durante a viagem de três semanas que fiz pelo Japão.
Onsen
Devido à atividade vulcânica no Japão, o país é rico em fontes de águas termais, conhecidas como onsen. Existem inúmeras, espalhadas por todas as regiões do país. Por seu efeitos relaxantes e até mesmo medicinais, devido à presença de minerais na água, esses banhos termais são bastante populares entre os japoneses e tem sido muito procurados pelos turistas.
As estruturas que se desenvolveram ao redor destas fontes de águas termais são variadas: alguns estabelecimentos construíram uma estrutura de modo que o onsen ficasse em um ambiente fechado, enquanto outros montaram uma estrutura acessória e mantiveram o onsen ao ar-livre. Esses com os banhos ao ar-livre, chamadas de rotenburo, são bastante atraentes, pois muitos têm vistas deslumbrantes para paisagens naturais.
Os onsen podem estar inseridos em hospedagens, onde o acesso ao banho é reservado aos seus hóspedes, assim como podem ser públicos.
Sentō
Sentō é o banho público – qualquer pessoa pode pagar o ingresso e usufruir das banheiras e/ou piscinas. É abastecido com água encanada aquecida, e não de fontes naturais. O propósito, atualmente, é de relaxamento, bem-estar e lazer, mas os sentō surgiram em épocas que as pessoas não possuíam banheiras em casa e procuravam os banhos públicos para banharem-se e socializarem com os demais usuários.
Existem estabelecimentos que mesclam onsen com sentō, ou seja, possuem tanto piscinas de águas termais como de água encanada. Por isso os nomes acabam se confundindo e sendo usados como sinônimos. Muitos exploram ainda outras opções em estilo spa, como saunas, hidromassagens, etc.
Ashiyu
Em cidades com mais abundância de fontes de águas termais, existem os ashiyu. São pequenos banhos públicos, onde podemos colocar os pés e parte das pernas (abaixo dos joelhos) de molho. Podem ser gratuitas ou cobrar pequenas taxas, e ficam pelas ruas da cidade. Além de relaxar os pés, podem ser usadas para aquecer as extremidades inferiores do corpo em dias frios.
Regras e características
A maioria dos banhos japoneses se encaixa nas seguintes regras e características:
- deve-se entrar nu nas piscinas de águas termais;
- em função da regra anterior, os banhos são separados por gênero;
- todos devem lavar-se antes de entrar na piscina. Esse banho ocorre em um espaço coletivo, onde diversas duchas e pequenos banquinhos estão posicionados lado a lado para que todos lavem as impurezas e eventuais produtos cosméticos do corpo antes de entrar na água termal que é compartilhada por todos;
- essas duas características combinadas – nudez + banhos coletivos – deixam algumas pessoas bastante desconfortáveis. Interessante que os japoneses, bastante tímidos e reservados, encaram isso com a maior naturalidade. O relato da Fábia Fuzeti, do blog Estrangeira, contando sua experiência em um banho público japonês, está hilário;
- é comum a água estar acima de 40º! A pressão sanguínea pode baixar, e por isso é recomendável não ficar muito tempo dentro da piscina, não fazer movimentos bruscos e sair imediatamente da água no caso de sentir tontura. A bacia que fica junto ao chuveirinho pode ser usada para pegar um pouco da água da piscina e despejar sobre o corpo, a fim de ajudar a ajustar a temperatura corporal;
- não são aceitas pessoas com tatuagens.
Banhos japoneses x tatuagens
No Japão, pessoas com tatuagens são relacionadas à yakuza, máfia japonesa. Portanto, quem tem tatuagem é mal-visto, e muitos estabelecimentos como hospedagens e banhos públicos são categóricos em proibir que pessoas com tatuagens visíveis circulem nos ambientes coletivos.
Essa regra de etiqueta japonesa complicou o meu planejamento de viagem. Queria muito passar pela experiência do banho nas águas termais, mas cada onsen que pesquisava deixava muito claro: não são permitidas pessoas com tatuagens!
Passei a pesquisar ryokans (hospedagens) com onsens, achando que eles poderiam ser um pouco mais tolerantes com hóspedes. Mas não foi muito diferente: nas informações pré-reserva, já há o aviso “hóspedes com tatuagens visíveis não são aceitos nas áreas públicas”. Ok, nos corredores da hospedagem, no salão de refeições, até tem como esconder, mas e na hora de ficar nu para entrar na piscina? 🙄
Kashikiri
A solução foi achar um ryokan com onsen privativo, chamado de kashikiri (=banho privativo), ou ainda, kazokuburo (=banho familiar).
Enquanto o banho público está incluso no valor da hospedagem, o uso do privativo é mediante o pagamento de uma taxa extra. Foi o jeito – e super valeu a pena.
Observação: após organizar toda a viagem, reservas feitas, etc etc, saiu esse post (em inglês) do site JW-Magazine, sugerindo alguns onsen tattoo friendly próximos a Tokyo. Fica a sugestão.
Como foi minha experiência
Me hospedei no hotel Bosenkan, na cidade de Gero. Falei mais sobre como é ficar em um ryokan (hospedagem tradicional japonesa) neste post aqui.
Ao reservar o hotel, escrevi para eles perguntando sobre a necessidade de reservar o kashikiri com antecedência, mas me responderam que não era preciso. No momento em que fiz o check-in, solicitei um horário no banho privativo. Eles gostam de montar os ambientes imitando a natureza, e tive a opção de escolher entre o ambiente de madeira e o de pedra. Fiquei com o segundo.
No horário agendado, desci com meu yukata: roupão típico, bem levinho, de algodão, emprestado pelo ryokan. O kashikiri ficava em uma pequena construção à parte do hotel, atravessando cerca de 50 metros ao ar livre. Temperatura externa no momento: -3º.
O banho
Ao entrar, há uma pequena peça para se despir e uma estante com cestas para deixar as roupas. Passando para a parte do banho propriamente dito, há o famoso banquinho com chuveiro para a limpeza antes de entrar na banheira.
Nesses poucos minutos entre chegar no kashikiri, tirar a roupa e me lavar, já estava tremendo de frio. E ainda assim, foi bastante difícil entrar na banheira, porque a água é mui-to-quen-te!
Meu período de tempo para usar o espaço era de quarenta e cinco minutos, e no início eu achei que não conseguiria ficar todo esse tempo. Em alguns momentos eu tinha tinha que ficar com mais partes do corpo fora d’água do que dentro, tamanho o calor. E mais de uma vez tive que abrir as janelas do ambiente para que o ar gélido da rua amenizasse a temperatura interna.
Mas fui adaptando o corpo, relaxando, e curti muito a experiência. Fiquei até o último minuto possível. E saí tão aquecida que nem senti frio no trecho aberto entre o kashikiri e o hotel.
Curiosa, eu?
Depois disso, fui matar minha curiosidade e dar uma conferida no banho coletivo das mulheres. Entrei enrolada no yukata, para esconder as tattoos 😛 . A piscina coletiva era de bom tamanho, e havia cerca de dez chuveirinhos um ao lado do outro. Várias mulheres estavam tomando banho, ou secando o cabelo, todas sentadas naqueles banquinhos, nuas e na maior naturalidade.
A inesperada experiência em um banho coletivo
Alguns dias depois dessa experiência, passei um dia e uma noite na cidade de Kanazawa. Para dar uma economizada após a “ostentação” no ryokan 😀 , e já que era apenas uma pernoite, peguei uma acomodação com banheiro compartilhado.
Chegando lá, o hotel era super tradicional japonês, café da manhã com sopa missô, arroz e chá verde, e por aí vai. Foi a hospedagem no Japão onde tive a maior dificuldade para me comunicar em inglês com os atendentes. Mas pensei que o banheiro compartilhado teria alguns boxes com chuveiro, estilo ocidental.
Surpresa!
Minha surpresa foi quando a senhora me mostrou o local de banho: era coletivo, tinha um feminino e um masculino. Pequenos, para três ou quatro pessoas. Nada foi dito sobre tatuagens, e lá fui eu.
A senhora botou a piscininha para encher e saiu, e eu fiquei ali me lavando. Dali a pouco ela voltou, e lá estava eu, da maneira como cheguei ao mundo, sentada no banquinho de costas para a porta, com todas tatuagens à mostra. Achei que ela fosse me xingar e me expulsar do banho 😀 , mas só pediu que eu fechasse a torneira da piscina quando terminasse de encher. Por acaso, ninguém mais apareceu. Fiquei de dona do pedaço, regulei a temperatura da água como eu quis e fiquei um tempão de molho. Para melhorar, a mesma senhora começou a tocar harpa tradicional japonesa na recepção do hotel, e dava para ouvir do banho. O som era lindo!
Banhos particulares
Os japoneses curtem muito essa coisa de usar o banho não só para se lavar, mas para relaxar. É muito comum que eles tenham banheiras em casa, porém menores do que o padrão que costumamos ver no ocidente. Uma pessoa cabe sentada dentro dela, com as pernas um pouco flexionadas.
Em vários dos locais onde me hospedei no Japão os banheiros eram assim. É um ambiente bem interessante: um box quadrado, onde metade do espaço é ocupado pela banheira. Do lado de fora dela, no restante do espaço, usa-se o chuveiro. O princípio de lavar-se antes é o mesmo: os membros de uma família compartilham a mesma água na banheira, portanto todos devem entrar com o corpo já lavado e limpo.
Na guesthouse onde fiquei em Kyoto, o box era tão multifuncional e tecnológico que tinha um ar-condicionado próprio. Dava pra aquecer o ambiente um tempo antes de entrar no banho, escolher a temperatura, e tinha até timer. E ainda podia ser usado como secadora de roupas: era só pendurar as roupas lá dentro, fechar a porta, ajustar a função secadora e o timer. Super útil para os dias frios e chuvosos que peguei.
Ah, a título de curiosidade, o vaso sanitário fica em um ambiente à parte do banho, por questões higiênicas. E, sim, os vasos sanitários japoneses também são super tecnológicos, mas isso já renderia um outro post. 😀
Que achaste, tens curiosidade de ir a um banho japonês? Já foste em algum? Me conta aí nos comentários. 😉
18 de agosto de 2019 at 15:23
Helen
Eu nunca ao Japão e, portanto, sei pouco sobre o país. Uma dessas ignorâncias é que eu nem sabia desses Banhos Japoneses e achei extremamente curioso. Primeiro porque a ideia de um local público de banho nù coletivo já me espanta (não por pudor, mas por higiene) e segundo pela ideia das tatuagens.
Agora fiquei curiosa com essa experiencia! rs
21 de agosto de 2019 at 18:40
Oi, Juliana!
O Japão é recheado de coisas curiosas, surpreendentes e até mesmo intrigantes. 😀
Foi uma experiência muito interessante e gostosa, recomendo!
18 de agosto de 2019 at 23:45
Estive no Japão e não fui em nenhum desses banhos japoneses. Mas depois de tudo que li aqui acho que adoraria o Ashiyu. Se bem que como não tenho nenhuma tatuagem pelo que entendi posso ir em qualquer um deles. Dicas anotadas para uma próxima viagem ao Japão.
21 de agosto de 2019 at 18:42
Olá, Fernanda!
Isso mesmo, quem não tem tatuagens pode ir a qualquer um dos banhos japoneses.
19 de agosto de 2019 at 06:31
Ir em um Onsen foi uma das experiências mais legais da minha vida. Quem vai para o Japão tem que ir nos banhos japoneses, pelo menos em um! É super interessante 🙂
21 de agosto de 2019 at 18:43
Não é mesmo, Gabriela?
Pra mim também foi bem especial e também acho que tem que ser experimentado por quem vai visitar o Japão.
19 de agosto de 2019 at 17:05
Não fazia ideia da diferença entre esses tipos de banhos japoneses. Adorei conhecer mais sobre essa cultura tão rica.
21 de agosto de 2019 at 18:44
A cultura japonesa é incrível, Francine! Fiquei maravilhada em conhecer um pouco mais dela ao visitar o país.
20 de agosto de 2019 at 06:04
Nossa, fiquei muito curiosa para ir a um desses banhos japoneses! Sou cheia de tatuagens e teria esse mesmo problema que você teve, mas que bom saber que tem uma solução.
21 de agosto de 2019 at 18:46
Tem solução, sim, Marcela! Ainda bem, porque é muito legal!
20 de agosto de 2019 at 06:15
Tive a oportunidade de experimentar um desses banhos onsen em um ryokan em Toquio. Fiquei espantada com o banquinho e as escovinhas e o ritual de se esfregar antes de entrar no ofuro. É meio awkward sim.
Só quem passou por isso sabe como é 🙂
Adorei o post!
21 de agosto de 2019 at 18:49
Oi, Patti!
“Meio awkward” define muito bem a situação! Hahaha!
20 de agosto de 2019 at 12:58
Ual, devorei o post e li tudinho! Estamos planejando uma viagem a Toquio o ano que vem e esse post não poderia ser mais detalhado e cheio de informações. Muito obrigada por mostrar como são os banhos japoneses com tantos detalhes e fotos!
21 de agosto de 2019 at 18:50
Então não deixem de ir em um desses banhos japoneses, Victoria! É sensacional.
20 de agosto de 2019 at 18:59
Eu desconhecia essa diferença dos banhos japoneses, confesso que apesar de não ter tatuagem acho que iria preferir o banho privativo. Muito curioso e interessante as diferenças culturais.
21 de agosto de 2019 at 18:51
Muito bem colocado, Andrea. O banho privativo serve não só para as pessoas que têm tatuagens, mas também para aquelas que desejam privacidade.
20 de agosto de 2019 at 19:51
Ainda não tive oportunidade de ir a nenhum, mas quem sabe um dia?! Uma coisa é certa, desejo muito, muito mesmo conhecer o Japão. Com toda a certeza seu post vai me ajudar demais!!!!
21 de agosto de 2019 at 18:53
Japão foi uma das viagens mais sensacionais que já fiz, Tati. Tenho certeza que vais adorar.
20 de agosto de 2019 at 21:01
Adorei esse post porquê eu tive o mesmo problema das tatuagens e acabei desistindo de encontrar um banho. Num apart hotel que fiquei em Tóquio, eles tinham uma dessas banheira também, ela é bem menor e mais funda do que as que conhecemos, e achei ótima!
21 de agosto de 2019 at 18:58
Oi, Paula!
Nós fomos bem persistentes em encontrar o banho que pudéssemos ir, porque queríamos muito passar por isso.
Ainda bem que já estão aparecendo os onsen tattoo friendly, como comentei no post, para facilitar.
E as banheirinhas que eles têm nos hotéis são ótimas mesmo!
21 de agosto de 2019 at 16:30
Achei o post bem interessante. Eu não poderia ficar nú kkk, tenho algumas tatuagens em lugares visíveis.
21 de agosto de 2019 at 18:34
Pois então, Diego, essa questão das tatuagens é um problema hehehe. A solução pra ti seria a mesma que para nós: um kashikiri (onsen privativo).
8 de setembro de 2019 at 06:01
gente, vou ter q experimentar isso ai ano que vem! estou super ansiosa para viajar ao japao! e ja tinha lido o relato da fabia, muito engracado aheuhea
8 de setembro de 2019 at 18:07
Não deixa de experimentar, Angela! Vivência única.