Alpes Japoneses
Quase todo mundo já ouviu falar dos alpes suíços, dos alpes franceses ou dos italianos. Bem menos famosos que esses, até desconhecidos para muita gente, são os alpes japoneses.
Bom, não podemos comparar uma formação natural de um continente com a de um país insular. As proporções, naturalmente, não são as mesmas. Enquanto na Europa o Mont Blanc/Monte Bianco, na fronteira entre França e Itália, é o ponto mais alto com 4810 metros de altitude, no Japão a altitude máxima é de 3190 metros, na montanha de Hotaka-dake, entre as províncias de Nagano e Gifu.
Porém, tudo aquilo que vem à mente quando pensamos em alpes, existe no Japão também: neve, estações de esqui, resorts charmosos, bosques, rios verdejantes e paisagens deslumbrantes.
Conhecendo os Alpes Japoneses de trem
O ideal para conhecer os alpes japoneses é ficar hospedado em uma ou mais cidades da região. Para quem quer (e pode), praticar esportes de neve ou percorrer algumas das trilhas de trekking são excelentes possibilidades.
Das três semanas que passei no Japão, separei apenas três dias para conhecer um pouquinho dos alpes. Foi pouco tempo – o que deu para encaixar no roteiro, considerando todos os outros lugares que queria conhecer no país. Por isso, não deu para programar nenhuma atividade muito mirabolante.
Mas, os próprios deslocamentos entre as cidades funcionam como ótimas maneiras de ver uma parte dos alpes japoneses. Para quem não tem interesse, condições físicas ou tempo para praticar esqui, trekking, etc, ou não tem disposição ($$) para ficar em um dos resorts, saiba que dá para curtir bastante as paisagens só em transitar pelas estradas da região.
Alugar carro pode ser uma opção, mas dirigir na mão inglesa é um complicador. Ainda mais se a viagem for no inverno, com neve nas estradas. Outra opção para os deslocamentos é o ônibus: dá para consultar rotas e horários no site Japan Bus Online.
Porém, acho que nesse caso o trem é mesmo a melhor opção. É prático, é charmoso, é confortável, e dá para relaxar e esquecer da vida admirando aqueles cenários.
O trecho que passei pela região alpina, mais precisamente, foi a bordo do trem Limited Express Wide View Hida, que faz o trajeto de Nagoya até Takayama ou, com menos opções de horários, até Toyama.
Existe a opção de trem que sai diretamente de Osaka até Takayama, parando também em Kyoto, sem necessidade de troca de veículo em Nagoya. Porém, ele sai em somente um horário por dia (saída de Osaka às 7h52 em dias de semana e às 8h02 em fins de semana).
Para consultar os horários atualizados dos trens, consulta o site Hyperdia. A companhia que opera esse trecho é a JR, ou seja, dá para utilizar o JR Pass nesses deslocamentos.
As paisagens
Sabe quando o trajeto vale a viagem, e a vontade é demorar mais para chegar ao destino, só para ficar curtindo o visual? Pois é! Inteligentemente, a JR colocou nesse trecho trens com janelas panorâmicas enormes. É aquele tipo de deslocamento que vale por um passeio, e é impossível fazer outra coisa do tipo dormir ou ficar mexendo no smartphone. Aliás, usar o smartphone só mesmo para ficar tentando tirar fotos com o trem em movimento… Que não fazem jus a um décimo da beleza que estamos vendo.
O trem vai subindo as montanhas margeando, na maior parte do tempo, o Rio Hida. A velocidade é bem inferior quando comparada a outros deslocamentos de trens japoneses, em função do trecho montanhoso, com várias curvas e em subida. Que bom! Um trem-bala nessa parte não teria a menor graça!
Os trechos de trem que percorri foram de Nagoya a Gero, depois de Gero a Takayama, e, por fim, de Takayama a Toyama. Me hospedei em duas cidades da região, para poder conhecer um pouquinho mais dos alpes japoneses. Falo delas a seguir.
Gero
A primeira cidade em que fiquei nos alpes foi Gero. É um dos principais destinos de fontes de águas termais do país e lá funcionam inúmeros estabelecimentos que exploram essa característica, entre banhos públicos e hospedagens com piscinas privadas.
Minha estadia por lá foi principalmente para me hospedar por uma noite em um ryokan e desfrutar do banho em um onsen. Mas tive tempo para explorar um pouquinho da cidade e ela é uma gracinha! Fica entre montanhas e é cortada pelo Rio Hida.
Lê os posts:
Hospedagem tradicional japonesa: ryokan
Banhos japoneses: onsen, sentō e outros
Parece ser muito procurada pelo turismo interno. Cruzei com apenas um casal de ocidentais durante minha permanência por lá! Mas isso deixou a experiência ainda mais genuína, curti muito.
Takayama
Bem mais conhecida e turística, é uma cidade que entra, merecidamente, no roteiro de muita gente que vai ao Japão. Fiquei lá duas noites.
O centro histórico de Takayama é repleto de construções típicas em madeira, muito bonitinho!
Visitei também o vilarejo-museu de Hida-no-Sato. O local estava repleto de neve, com um visual maravilhoso!
Para completar, fiz o bate-volta à famosa localidade de Shirakawa-go, Patrimônio Mundial pela UNESCO por preservar diversas construções no estilo gassho-zukuri. É possível hospedar-se nessa localidade, mas um passeio a partir de Takayama já funciona muito bem.
Fui lá em um evento ao cair da noite, chamado de Shirakawa-go Light Up. Tive a sorte de conseguir estar lá na data certa, pois ocorre somente seis vezes no ano, durante o inverno. É imprescindível comprar ingressos com antecedência, já que o acesso ao vilarejo é controlado e limitado. Por outro lado, o clima não colaborou comigo: choveu demais e dificultou muito o passeio. Mas sem dúvidas o lugar é deslumbrante e é um programa que recomendo muito, seja de dia, ou de noite nesse evento.
Depois de Takayama, segui com o Wide View Hida até Toyama. Dessa vez, o trecho foi em descida, mas novamente passei todo o trajeto boquiaberta com as vistas das montanhas parcialmente cobertas de neve e os rios de águas muito verdes. Chegando em Toyama, troquei de trem, seguindo viagem para Kanazawa. E assim finalizei a belíssima e até mesmo surpreendente incursão pelos alpes japoneses.
Clima nos alpes japoneses
Como é de se esperar de uma região alpina, faz bastante frio. Peguei, no auge do inverno, temperaturas mínimas de -3º e máximas de 1º. E peguei um inverno “bem quentinho” 😀 . Alguns locais comentaram que estava sendo um inverno ameno, com um volume de neve bem menor que nos outros anos.
Em Takayama, por exemplo, as médias no inverno ficam entre -5º e 6º, na primavera e no outono entre 3º e 26º, e no verão, de 14º a 31º. Em Shirakawa-go, no inverno, não é difícil que as temperaturas baixem a -10º! 😮
Ah, sem contar que o vento é uma constante, derrubando a sensação térmica. Levem agasalhos, crianças! 😉
Outras bases
Na outra “borda” dos alpes japoneses, existem outras localidades bem interessantes que não tive a oportunidade de conhecer.
- Nagano – fica a uma hora e meia de Tóquio, de shinkansen (trem-bala). Possui muitos resorts e onsens, além da ótima estrutura para a prática de esportes na neve: foi sede das Olimpíadas de Inverno de 1998.
- Matsumoto – tem um espetacular castelo medieval e é uma espécie de porta de entrada para os alpes japoneses.
- Kamikochi – faz parte de um parque nacional. Tem poucos hotéis e resorts, mantendo a região bastante “selvagem”. Oferece trilhas de variados níveis de dificuldade, em contato muito intenso com a natureza.
Em resumo
Nunca havia escutado o termo “alpes japoneses” antes de começar o planejamento desta viagem, e, no fim das contas, foi um dos trechos mais lindos pelos quais passei no Japão. Os trajetos percorridos de trem superaram as expectativas em beleza, e as cidades que conheci também não ficaram atrás.
Blogagem Coletiva Viagens de Trem
Este post faz parte da blogagem coletiva sobre o tema #viagensdetrem, em parceria com diversos blogs de viagem.
Tem várias viagens de trem legais no Brasil e no mundo, e dicas de como usar esse meio de transporte tão encantador. Confere o que eles escreveram:
- Ligado em Viagem – Roteiro de trem por 5 capitais da Europa: Londres, Paris, Bruxelas, Amsterdam e Berlim
- Destino Compartilhado – Trens na Itália: Viagens pela Calábria
- Destinos Por Onde Andei… – Viagem de trem no Paraná: de Morretes à Curitiba
- Mariana Viaja – Viagens de trem para fazer no Brasil
- Pelo Mundo com Manu – Passeio de Trem Maria Fumaça – De Carlos Barbosa a Bento Gonçalves
- Diário de Turista – Como visitar Neuschwanstein: O Castelo da Cinderela na Alemanha
- Tripping Unicorn – Como Comprar Passagens & Passes de Trem na Europa
- No Mundo da Paula – Trem na Itália : Guia de Como Funcionam
- Viajante Econômica – Dicas para viajar de trem na Europa
- Entre Polos – Trem de Paris para Moscou
- Viaje na Web – Viagem de trem no Japão: Guia com preços, dicas de roteiros, malas e JR PASS
Essa passagem pelos Alpes Japoneses aconteceu entre os dias 1º e 4 de fevereiro de 2019.
O blog fica muito melhor e mais completo com tua participação. Tens alguma sugestão para dar, alguma informação a acrescentar, alguma dúvida? Deixa nos comentários 😉
29 de junho de 2019 at 20:53
Realmente nunca soube destes Alpes japoneses. Adorei a dica. Amo viajar de trem. Ainda mais em paisagens tão lindas. Obrigada pela postagem.
1 de julho de 2019 at 20:35
Eu que agradeço pelo comentário, Cecília!
29 de junho de 2019 at 22:54
Uau, que viagem chiquérrima! Estou doida para conhecer a cultura e passeios japoneses, ótimas dicas! Amo viagens de trem, é meu deslocamento principal e preferido em todas as minhas viagens, recomendo!
1 de julho de 2019 at 20:37
Japão é uma viagem fascinante, e andar de trem por lá é uma experiência à parte!
30 de junho de 2019 at 11:44
Que ótima ideia, conhecer os alpes japoneses de trem! Fiquei encantada com as fotos e imagino que na real a paisagem deve ser realmente ainda mais encantadora. Parabéns pelo post e pelas dicas 🙂
1 de julho de 2019 at 20:38
Obrigada, Patti!
Sem dúvidas, pessoalmente as paisagens são de ficar de queixo caído!
30 de junho de 2019 at 23:24
Quantas paisagens fascinantes, viajar de trem nos presenteia com estas surpresas maravilhosas.
Um verdadeiro guia para os viajantes que nunca puseram o pé no Japão, que dirá nos Alpes Japoneses, ainda mais desbravando de trem, uauuu, amei de verdade.
Super completo e útil para quem pretende visitar estes super destinos.
1 de julho de 2019 at 20:40
Muito obrigada pelo elogio, Gisele!
1 de julho de 2019 at 07:22
Uia, que viagem mais interessante, nunca tinha imaginado ir para os alpes japoneses! E que legal que é possível ir de trem.
1 de julho de 2019 at 20:41
Pois é, Edson, também fiquei surpresa quando fiquei sabendo da existência de alpes no Japão! Hehehe.
Ainda bem que a surpresa foi maravilhosa!
1 de julho de 2019 at 20:17
Também nunca tinha ouvido falar nos Alpes Japoneses, mas pelo que vi aqui foi uma viagem encantadora. Quem sabe no futuro eu passa Conhecer os Alpes Japoneses de trem…
1 de julho de 2019 at 20:43
Foi encantadora! Espero que tu também possas conhecer um dia, Zudi!
2 de julho de 2019 at 02:24
Ai que delícia essas paisagens! Quando eu tava pesquisando meu roteiro pro Japão fiquei morrendo de vontade de incluir os alpes japoneses mas era humanamente impossível no tempo que eu tinha encaixar ele na programação.
2 de julho de 2019 at 18:30
Super te entendo, Fernanda! Tem coisa legal demais no Japão e é impossível colocar tudo em apenas uma viagem!
2 de julho de 2019 at 07:08
O post me deu uma visão totalmente diferente do que eu tinha do Japão (e ainda mais vontade de visitar esse país). Muito bem feito, parabéns!
2 de julho de 2019 at 18:32
Obrigada, Tom!
De fato, essa é uma das coisas mais legais de visitar o Japão: conhecer suas múltiplas facetas, que vão muito além das tecnologias e das tradições seculares.
2 de julho de 2019 at 07:33
Nunca tinha ouvido falar dos Alpes japoneses, uma paisagem linda mesmo para se ver da janela do trem
2 de julho de 2019 at 18:33
Viajar de trem já é bom demais, vendo paisagens lindas, melhor ainda. 😉
3 de julho de 2019 at 12:03
Que incrível! Eu também não sabia dessa região. Adorei as fotos e as dicas, ainda mais por saber que dá para conhecer os Alpes Japoneses de trem!
3 de julho de 2019 at 18:51
Pois, é, Mariana, os alpes japoneses são beem menos famosos que os da Europa. 😀
8 de julho de 2019 at 13:52
De fato nunca havia escutado o termo alpes japoneses, e ler o seu relato me deixou bem encantada – fora as belíssimas paisagens do percurso!
16 de julho de 2019 at 19:24
As paisagens do percurso são mesmo belíssimas, Emilia!
24 de outubro de 2019 at 12:05
Olá Helen, que incrível essas paisagens.
Me tira uma dúvida, o trecho da linha JR também faz esse mesmo percurso do trem Limited Express Wide View Hida?
Estou montando meu roteiro pra minha viagem pro Japão, e está bem difícil, são muitas informações e coisas pra ver.
24 de outubro de 2019 at 14:51
Olá, Paulo!
Realmente, montar um roteiro pro Japão é tarefa difícil, tem muita coisa interessante para conhecer. 😀
Desculpa, não entendi tua dúvida, uma vez que o Limited Express Wide View Hida é operado pela JR (Limited Express Wide View Hida é o tipo de trem e JR é a companhia).
Algumas linhas com outros nomes fazem somente parte do trajeto, como por exemplo a JR Tokaido, que vai só até Gifu e lá é preciso pegar um Wide View Hida para seguir para Gero ou Takayama etc.
Espero ter esclarecido, mas se não era isso, pergunta de novo, ok?
Abraço!
11 de janeiro de 2020 at 17:58
Obrigado pelo post, Helen.
Ajuda no planejamento da viagem.
Minha esposa e eu teremos 15 dias no Japão durante a primavera.
Começaremos por Tóquio e antes de seguir para Kioto gostaríamos de passar dois dias e uma noite pelos Alpes. Em qual cidade você recomenda pernoitar?Gero? Takayama?Toyama? Matsumoto?
Obrigado.
12 de janeiro de 2020 at 18:17
Olá, Francisco. Que bom que o post te ajudou!
Recomendo Takayama, que é uma fofurinha! Uma pena que vocês tenham somente dois dias e uma noite, mas te entendo perfeitamente, o Japão tem muita coisa interessante e é impossível encaixar tudo em um roteiro só.
E os deslocamentos por si só são lindos, como tentei mostrar um pouquinho no texto, então sem dúvidas vale a pena, mesmo que só por dois dias.
Excelente viagem para vocês!