Kanazawa é uma cidade a 450 quilômetros de distância de trem de Tóquio (300 quilômetros em uma linha reta), na costa do Mar do Japão e aos pés dos Alpes Japoneses. Tem aproximadamente meio milhão de habitantes, e é a capital do seu distrito, Ishikawa.
Estávamos finalizando nosso trecho de viagem pelos Alpes Japoneses e, antes de seguir para Tóquio, separamos uma tarde/noite e mais uma manhã para conhecer essa cidade. Foi nela que consegui a “proeza” de perder nossos JR Passes, e já adianto que essa história teve um desfecho bem surpreendente – mas antes de contar o ocorrido, vou falar um pouco mais sobre Kanazawa.
Lê os posts:
Roteiro de viagem: três semanas pelo Japão
Conhecendo os Alpes Japoneses de trem
Kanazawa
A maioria dos turistas, como nós, chega a Kanazawa pela sua estação principal de trens, a Kanazawa Station. Utilizando sua saída leste, já nos deparamos com um dos belos marcos da cidade: o portão Tsuzumi-mon, um enorme torii estilizado feito em madeira, medindo 13,7 metros de altura por 24,2 de largura.
Defronte à estação de trens partem ônibus que levam aos mais relevantes pontos turísticos da cidade. Confere esse site para mais detalhes sobre os ônibus, rotas, tarifas e horários.
A primeira atração que visitamos, ou melhor, tentamos visitar, foi o templo Myoryu-ji, apelidado de Ninjadera. Esse templo possui armadilhas e portas secretas, sendo por isso associado aos ninjas, apesar de não ter sido construído ou utilizado por esses guerreiros. Ficamos limitados a conhecer apenas sua área externa, porque… não conseguimos encontrar sua entrada! Circundamos o templo umas três vezes. Achamos um cartaz indicando a localização da entrada, mas no lugar indicado não havia uma recepção, um guichê, uma pessoa… nada. Chegamos à conclusão de que era preciso ser ninja para encontrar a entrada e ser digno de visitá-lo… 😕
Porém, a verdade é que o Myoryu-ji funciona somente através de visitas guiadas, que devem ser agendadas previamente por telefone e são realizadas em japonês. Se pretendes visitar, deixo aqui o site do Myoryu-ji para mais informações. Depois volta aqui e me conta como foi, por favorzinho. 🙂
A poucas quadras dali, aproveitamos para conhecer o distrito de Nishi Chaya. Chaya é o estabelecimento onde as gueishas entretêm os clientes com música e dança, e Nishi Chaya concentra algumas dessas construções históricas típicas em madeira. É pequeno, mas bem bonitinho.
Caminhamos em direção à principal atração de Kanazawa: o Kenroku-en. Trata-se de um dos três principais e mais belos jardins do país. Mais do que um jardim, é um belíssimo parque com lagos e cursos d’água, pontes, diversos tipos de árvores e até casa de chá. Infelizmente o inverno, época da nossa visita, é a estação em que o jardim está menos exuberante, mas de qualquer forma é um passeio super gostoso.
Na ausência de flores ou vegetações mais abundantes, acabei me encantando pelos yukitsuri – arranjos de cordas feitos nas árvores, dando apoio aos galhos para que não se quebrem com o peso da neve. O esforço que os japoneses empregam nos cuidados com seus jardins é encantador.
Para saber mais, consulta o site oficial do Kenroku-en.
Andamos até o Higashi Chaya District, outro distrito de gueishas porém bem maior que o Nishi Chaya (se tiveres tempo para conhecer apenas um, vai ao Higashi). Quando chegamos lá já era praticamente noite, mas ainda deu para curtir a beleza das construções em madeira.
Na manhã do dia seguinte, fomos ao Mercado de Peixes Omicho. Por ser uma cidade costeira, a oferta de frutos do mar é grande e bem variada. Para quem gosta de turistar em mercados e ver produtos e ingredientes típicos, é um ótimo programa. Ficamos impressionados com o preço de alguns “bichos”: embalagens com dois ou três caranguejos (conforme seu tamanho) chegavam ao equivalente a 40, 50 e até mesmo 100 dólares!
Conhecemos então o Castelo de Kanazawa. Achamos mais bonito e interessante de ver por fora do que por dentro, ainda mais depois de ter visitado outros castelos com o interior bem mais rico (Osaka, Himeji e Hiroshima). Portanto, recomendo a visita ao interior somente se ainda não tiveste a oportunidade de entrar em um castelo japonês. Vale mais a pena fazer um rápido passeio pela área externa antes ou depois de conhecer o Kenroku-en, que fica logo em frente.
Depois disso, voltamos o hotel somente para pegar nossas bagagens e partir. Estávamos ansiosos para conhecer nossa última cidade-base dessa viagem pelo Japão, nada mais nada menos do que Tóquio.
Kanazawa ficou meio “espremida” no nosso roteiro, entre muitas outras cidades japonesas que queríamos conhecer, e o tempo por lá acabou sendo insuficiente – uma pena. Existem diversas outras atrações interessantes na cidade, como o Nagamachi Samurai District, o Museu de Arte Contemporânea do Século XXI e o Museu D. T. Suzuki, entre vários outros lugares e programas. Para saber mais sobre a cidade, consulta o site oficial de turismo de Kanazawa.
JR Pass
O JR Pass é um passe oferecido pela JR (Japan Railways) que possibilita viagens de trem quase irrestritas nas linhas férreas operadas pela empresa, dentro de um determinado período de validade. Em uma primeira análise, o passe assusta pelo seu preço. Porém, para os turistas que vão fazer muitos deslocamentos dentro do país, o passe acaba saindo bem mais em conta do que pagar separadamente cada uma das viagens.
Para ajudar a analisar se vale a pena ou não adquirir o passe, lê o post: JR Pass: compensa?
Como tivemos sete cidades-base durante nossa viagem, além de vários bate-voltas a cidades vizinhas, compensou e bastante adquirir o JR Pass para 14 dias (ainda que pagando R$ 1900 pelo passe por pessoa – ui!).
Muito interessante é que, apesar de toda a modernidade, eficiência e tecnologia japonesas, o JR Pass é em papel – um papel grossinho, tipo uma cartolina!
O passe, no verso, leva o nome do usuário e o período de validade. Para usá-lo, precisamos mostrá-lo ao funcionário que fica junto às catracas da estação. Esse procedimento acontece tanto no embarque quanto no desembarque dos trens.
Kanazawa e os JR Passes perdidos
Chegamos em Kanazawa a bordo de um Shinkansen vindo de Takayama. Aquela função de mostrar os JR Passes para sair da área de desembarques.
Adotamos a rotina de deixar os JR Passes sempre comigo, assim a gente evitava aquela função de não saber com qual de nós ou onde estavam os passes na hora de usar. Eu guardava sempre ou no bolso grande e fechado de um dos meus casacos, ou em um bolso escondido da mochila.
Saímos da estação e estava caindo uma chuva fina. Carregando mala, mochila, sombrinha, atrapalhados com o tanto de roupas por causa do frio e do vento, e ainda olhando no celular a rota para chegar ao nosso hotel.
Fizemos o check-in e deixamos nossos pertences no quarto. Na hora de sair de novo para a rua, onde estão os benditos passes? Revira casaco, revira mochila, revira bolsos externos das malas, vasculha tudo e repete, e nada. Caí na real que eu tinha perdido eles.
Desci na recepção do hotel e perguntei se por acaso eu não tinha deixado-os sobre o balcão durante o check in. O hotel de Kanazawa foi, de toda a viagem pelo Japão, o que os atendentes menos falavam inglês. Tive que repetir o que estava acontecendo por algumas vezes até o rapaz entender, e cada vez que eu repetia eu me desesperava mais.
Quando ele finalmente compreendeu, disse que nada tinha ficado ali e sugeriu que fôssemos à estação para ver se tinham sido encontrados. Andamos de volta à estação, pelo menos era bem perto e a chuva tinha parado. Lá, a situação também não se resolveu: pergunta aqui, pergunta ali, e nada.
É de se ressaltar que não há reposição do JR Pass. Perdeu, virou café em cima e ficou ilegível, caiu na poça d’água e se desmanchou… independente da justificativa, já era!
Voltamos para o hotel para esfriar a cabeça e pensar no que fazer, e desandei a chorar. Perder os passes naquele ponto da viagem, com os deslocamentos ainda por vir, significava um gasto inesperado de, por baixo, R$ 500 para cada um. E além do prejuízo financeiro, eu estava com raiva de mim mesma pelo descuido.
Rodrigo chateado também, mas me convenceu que não havia mais nada a ser feito e não adiantava ficar olhando para as paredes e chorando. Saímos para conhecer a cidade.
Logo na esquina do hotel estávamos esperando para atravessar a rua e notamos um casal de ocidentais, o que já chamava a atenção pois os ocidentais eram poucos naqueles arredores. Mais estranho ainda, estavam nos encarando. Ficamos paralisados enquanto eles caminhavam na nossa direção, até que a moça parou na minha frente e perguntou (em inglês) “tu és Helen Pusch?”.
Respondi que sim, incrédula, e ela disse “nós achamos os JR Passes de vocês”.
Dei um abraço nela como se fosse uma amiga de infância que eu não via há milhares de anos. E desandei a chorar de novo 😀 . Sei lá, acho que a imersão de estar em outro país, outra cultura, outras paisagens, outra alimentação e outro fuso horário me deixam com as emoções mais afloradas. Depois abracei o rapaz, e o Rodrigo também abraçou os dois.
Os dois eram australianos e acharam os passes no chão na saída da estação de trens: “Nós guardamos porque também estamos usando e sabemos o quanto são caros”. Se os australianos achavam o passe caro, imagina nós! 😀
A moça tinha até me encontrado no Facebook e mandado uma mensagem avisando, mas no meio da confusão eu ainda não tinha conferido meu celular e muito menos minhas redes sociais.
Agradecemos um milhão de vezes ao casal antes de nos despedirmos, eles chegaram a ficar até um pouco constrangidos. 😀
Para melhorar, a chuva não danificou quase nada nossos passes e mal entortou um pouco as bordinhas. Que sorte! E que alívio!
Bom, quem nunca passou por um contratempo desses em viagens – seja com final feliz ou nem tanto? O importante é que no fim dê tudo certo e reste a história para contar e dar risadas!
Estivemos em Kanazawa entre os dias 4 e 5 de fevereiro de 2019.
O blog fica muito melhor e mais completo com tua participação. Tens alguma sugestão para dar, alguma informação a acrescentar, alguma dúvida? Deixa nos comentários 😉
Deixe um comentário