O roteiro do Japão foi pensado de forma que pudéssemos conhecer tudo que queríamos, com o menor tempo possível em deslocamentos. Embora seja um país relativamente pequeno, não é tarefa fácil cruzar as terras nipônicas, em primeiro lugar, porque o transporte lá é muito caro. Sem nenhum tipo de passe, tu pagas facilmente 100, 150 dólares em um trecho de trem. Sendo assim, a decisão de chegar por Osaka (leia o roteiro da viagem aqui) nos deixava mais perto de Hiroshima, uma região que não abríamos mão de conhecer. Essa cidade conta com o acervo do desastre atômico de 1945 e o lindíssimo Santuário de Itsukushima como atrações principais, além de várias outras.

De posse do nosso JR pass (leia sobre esse passe aqui), começamos nossas baldeações no sensacional sistema ferroviário japonês. A bordo do Shinkansen (conhecido como trem-bala), partimos cedinho de Osaka a Himeji, para um pit-stop, em 1h20min de viagem. Após conhecê-la, estávamos em outro Shinkansen rumo a Hiroshima, onde desembarcamos no fim de tarde, após mais um trecho de 1h45min. Da estação fomos ao bairro central em um dos ônibus cobertos pelo passe da JR. Existem, atualmente, quatro linhas cobertas pelo JR e que passam pelos principais pontos turísticos de Hiroshima. Para quem não tem o passe, existem tíquetes unitários e também passes diários (leia mais a respeito desses ônibus – rotas, horários, valores – aqui). Além disso, um dos ferrys que faz a travessia para Miyajima é da JR, então não gastamos com nenhum transporte enquanto estávamos nessa cidade, graças ao passe.

Shinkansen

Fomos direto à hospedagem, um hostel onde as acomodações lembram os famosos hotel-cápsula japoneses. A questão do espaço é um problema por lá, então, dependendo da cidade, do seu orçamento e do nível de desapego, o máximo que pode conseguir no nível “bom e barato” é um território onde cabe apenas você. Optamos pelo Santiago Guest House, que tem climatização, limpeza impecável, wi-fi de alta velocidade e tudo mais que um bom hostel oferece, como área de convivência e cozinha coletiva.

Santiago Guest House

Check-in realizado, hora de sair para um reconhecimento e procurar um lugar para jantar, pois já era noite. Após bater perna conhecendo o bairro, entramos em um simpático restaurante onde dois casais locais estavam bebericando e comendo coisas aparentemente gostosas. Esses restaurantes pequenos são muito típicos por lá, os Izakaya. Quando digo pequenos, são pequenos mesmo, entramos e lotou! O próprio dono está atrás de uma grande chapa, em frente a um balcão onde sentam-se umas seis pessoas. Escolhemos o prato pela foto do cardápio, pois ele e sua esposa falavam pouquíssimo inglês. Enquanto jogava os ingredientes na chapa e preparava o prato, conversava animadamente com um dos casais, enquanto o japonês do outro casal puxou um papo conosco, pois arranhava um belo espanhol. Comida típica, deliciosa, entre os locais, com direito a papo em espanhol com o japa simpático. Podia ser melhor a chegada em Hiroshima?

April 2010, Hiroshima
Um izakaya bem semelhante ao que jantamos em Hiroshima.
Foto “April 2010, Hiroshima” de cs.konekobox licenciado sob CC BY-NC-SA 2.0.

Nosso segundo dia nessa cidade seria cheio, saímos cedo em direção ao porto de onde saem os ferrys para a ilha de Miyajima. Seu nome original, Itsukushima, significa “onde Deus reside”. É um verdadeiro santuário, patrimônio mundial da Unesco.

o que fazer em Hiroshima
Torii de Miyajima

No caminho, atravessando a baía de Hiroshima, lindíssimas paisagens compõe o cenário à medida que nos aproximamos. O grande Torii construído na água já pode ser identificado. Assim que desembarcamos, saímos a esmo caminhando pelas ruas da cidade de Miyajima, repletas de cervos. Chegando no santuário de Itsukushima, uma bela surpresa: estava ocorrendo um tipo de cerimônia, como um exame de artes marciais de espada japonesa. Essas surpresas não programadas são um espetáculo!!! Existem muitos santuários xintoístas no Japão, mas Itsukushima é reconhecido como um dos mais belos e bem preservados (datado de 593 D.C.), todo montado em arquitetura tradicional e belíssima técnica artística, além do fato de ser construído sobre a água.

o que fazer em Hiroshima
Santuário de Itsukushima
Evento da arte marcial de espada japonesa

Iniciamos nossa subida do monte Misen, onde existe o templo Daisho-In construído na encosta. Durante a subida, outra surpresa: centenas de pequenos Budas estão marcando o caminho, de touquinhas, formando um cenário muito zen. Chegando ao templo, são diversas construções, lindas e caprichadas, em meio à floresta preservada. Um lugar verdadeiramente sagrado, onde muitos japoneses estão visitando e fazendo suas orações.

Caminho dos Budas
o que fazer em Hiroshima
Daisho-In

Após muito apreciar cada recanto deste lugar, é hora de partir. Forramos o estômago com algumas comidinhas de rua, como takoyaki, e estávamos no ferry retornando a Hiroshima, repletos de boas energias. Isso é muito necessário, pois a próxima atração já sabíamos que seria muito pesada: O parque Memorial da Paz.

Momentos de contemplação em Daisho-In

Que cidade linda e bem organizada. Em uma agradável caminhada na beira do rio, já identificamos o Atomic Bomb Dome, epicentro da explosão atômica de 6 de agosto de 1945. É muito impactante estar nesse lugar. Além do monumento citado, o Parque Memorial da Paz conta com diversos outros: A estátua das crianças, simbolizadas por Sadako Sasaki, a menina que acreditava que sobreviveria à radiação se fizesse os mil tsurus de origami, mas morreu antes de completá-los. O monte memorial, a chama da paz, o cenotáfio, o museu, entre outros. Todos com significados distintos. Todos relembrando a barbárie e desejando paz.

o que fazer em Hiroshima
Atomic Bomb Dome
Monumento às crianças: no alto, Sasaki segurando um enorme tsuru.

Finalizamos a visita ao parque no Hiroshima Peace Memorial Museum. Assim como outros museus pelo mundo que contam capítulos tristes da história da humanidade, é pesado. Muito pesado. Enquanto visita as obras, lê, observa, é impossível não ir às lágrimas, e não escutar o mesmo de outros visitantes. Visita muito triste, porém necessária. Sabíamos que seria assim, então, nesse clima saímos do museu, para fazer um lanche e retornar ao hostel. Temos mais uma visita a fazer na manhã seguinte: o castelo de Hiroshima.

Museu Memorial da Paz de Hiroshima

A cerca de 15 minutos de caminhada do Memorial da Paz, está o castelo de Hiroshima. Datado de 1590, quando a cidade ainda era um feudo (han), o castelo foi parcialmente destruído com a explosão atômica. Foi fielmente reconstruído em 1958. Hoje abriga o museu da cultura samurai, um acervo muito bonito. Você pode inclusive vestir-se com roupas típicas da época para fotos. Além da atração, subir a torre do castelo oferece lindas vistas da cidade.

o que fazer em Hiroshima
Castelo de Hiroshima

Vale a pena? Para nós, sim, valeu muito a visita. Nesse momento da viagem já conhecíamos os castelos de Osaka e Himeji, e eu diria que são únicos, e com interiores que oferecem diferentes atrações. Assim não se tornam repetitivos.

Samurai de asics?

Chegava ao fim nossa estadia em Hiroshima, com uma convicção: se pudesse, dormiria mais uma noite (foram duas). Além da cidade ser uma delícia, não esperávamos que Miyajima fosse um lugar tão espetacular, então ficamos tanto tempo lá que o Memorial da Paz foi mais corrido do que gostaríamos. E outras atrações poderiam ser visitadas, como Shukkeien Garden (um lindo jardim japonês, mas que no inverno não estaria no seu esplendor) os templos Mitaki-dera e Fudoin ou o museu da Mazda. Hiroshima é uma cidade com atrações para mais tempo, e curtimos demais nossa estadia por lá.