Dia da chegada: reconhecimento
Após alguns dias intensos em Bangkok, estávamos ansiosos no avião da Cambodia Angkor Air rumo a Siem Reap, Camboja (leia o roteiro completo de nossa viagem por Tailândia, Camboja e Vietnã aqui). Assim que desembarcamos, já sentimos aquele calor mais intenso do que na Tailândia, uma coisa praticamente “infernal”. Optamos por fazer o visto on arrival, no próprio aeroporto, ao custo de 30USD. Contando o tempo para preencher os formulários, entregar junto com a foto 3×4, passar as filas, levamos cerca de uma hora nessa função. Mais informações podem ser acessadas no site https://www.evisa.gov.kh/.
Nosso hotel oferecia um translado grátis para o aeroporto, nosso motorista de tuc-tuc já nos aguardava no desembarque com nossos nomes na plaquinha. Em cerca de 15 minutos chegamos ao hotel, fizemos check-in, e já saímos pra rua, estava anoitecendo.
Passamos pelo Old Market, não tinha muita coisa aberta nesse horário. Então já fomos para o Night Market. Tem bastante coisa, muitas barracas de souvenirs, artesanato, comidinhas de rua e afins. O lugar é muito bem cuidado. Fomos caminhar pela Pub Street, já procurando um lugar para comer. Estava bem animada, muita gente, muitos restaurantes dos mais variados tipos e muitas baladas. Diversão pra todos os gostos. Gostamos de uma pizzaria que tinha um balcão ao ar livre no segundo andar, vista para o rio e para o movimento da rua. Ambiente bem bacana, pizza gostosa e cerveja local, a primeira noite no Camboja estava uma delícia.
Segundo dia: Siem Reap se revela
Somos viajantes que consideram que, em lugares espetaculares do mundo como Angkor Wat, contratar um guia faz muita diferença, enriquece a experiência. Um guia diferenciado, às vezes, é questão de sorte. Nas pesquisas pré-viagem, ficamos sabendo de um guia de Siem Reap que falava 7 línguas, inclusive português. Isso seria interessantíssimo, pois algumas tours em inglês que fizemos na Tailândia foram sofríveis, devido ao nível do inglês ou mesmo a pronúncia dos guias. Seu nome é Alex Ven Sihoeurn, ele tem facebook e está no site experienciacamboja.com. Foi a melhor escolha, Alex é profundo conhecedor das coisas do seu país, da história, monumentos, cultura, além de muito profissional e carismático. Acertamos, ainda no Brasil, dois dias de tour.
Após o café da manhã, aguardávamos o Alex em frente ao nosso hotel para o primeiro dia de tour. Neste dia, o programado eram os templos de Koh Ker e Beng Mealea. A van chegou no horário programado, com mais um casal de brasileiros.
Koh Ker fica a cerca de 130km de Siem Reap, é a antiga capital do império Khmer (séc X). O sítio é remoto e fortemente arborizado, e fica em uma área que está há poucos anos livre de minas terrestres. Por essa distância e nível de segurança recente para visitantes, tem um fluxo de turistas ainda pequeno e conserva um certo ar de mistério.
O caminho até lá já é uma atração à parte! Cruzamos pequenos vilarejos, casinhas super simples, plantações e carroças puxadas por bois. Enquanto isso, o Alex já ia dando uma aula sobre as construções que veríamos, sobre a história recente do Camboja, sobre a época do Império Khmer, sobre a influência do hinduísmo e do budismo sobre os templos que foram construídos… eita! Isso é que é guia! O cara fala sete línguas e é autodidata, aprendeu todas só usando a internet e trabalhando com turistas do mundo! Viramos fãs.
A primeira parada no sítio de Koh Ker foi o Prasat Pram. Formado por cinco construções pequenas, parcialmente tomadas pelas raízes das árvores. Ficamos maravilhados com esse primeiro contato com os templos cambojanos, estávamos só nós lá, os quatro brasileiros, o Alex, o motorista, e a mata. Após a aula do nosso guia, exploramos bastante esse lugar que nos parecia tão exótico.
A parada seguinte, mais rápida, foi no Prasat Neang Khmau. Esse templo tem o aspecto de queimado, mas na verdade a sua cor é resultado da ação do tempo sobre o tipo de pedra utilizado na construção. Paramos ainda rapidamente em Prasat Kra Chap e Prasat Linga.
Estava reservado para o final da manhã um local não menos impressionante da região de Koh Ker: o Prasat Thom, uma pirâmide de sete níveis e 36 metros de altura. A escada até o topo é aberta aos visitantes, com limitação do número de pessoas por vez (mas não tinha muita gente, foi tranquilo) e as vistas da floresta lá em cima são espetaculares.
Almoçamos em um restaurante bem simples em uma espécie de “centrinho comercial” na região: dois restaurantes e umas 4 lojinhas de artesanato. Lugar extremamente simples, todo de chão batido e sem banheiro. O casal que estava conosco no passeio ficou com um pouco de receio, comeu metade do prato que pediram. Já nós pedimos um prato cada um, e comemos tudo (ogros 😀 )! Estava bem gostoso, uma rica mistura de temperos diferentes. Sabemos que muita gente tem receio de provar as comidas locais ou comidas de rua quando viajam, pois passar mal ou ter uma infecção intestinal pode trazer belos prejuízos à viagem. Conhecemos um casal nas andanças pelo sudeste asiático que só comia no Mc Donalds e na Pizza Hut, por esse motivo. Cada um faz suas escolhas, mas nós comemos de tudo, em todos os lugares, pois acreditamos que a comida faz parte do universo da viagem. Nós descobrimos, comendo, o quanto a gastronomia cambojana difere da tailandesa, que por sua vez difere da vietnamita, e o quanto são deliciosas.
Após esse parêntese, segue o dia. Depois do almoço partimos para o Beng Mealea. Esse já não fica tão longe de Siem Reap (cerca de 40km). Essas ruínas não receberam nenhum tipo de restauração, por isso estão exatamente do jeito que a ação do tempo e da natureza as deixaram (excetuando eventuais saques dos períodos de guerra).
Esse lugar é sensacional. Um tesouro histórico e arqueológico ali, diante de nossos olhos. Somado ao pequeno fluxo de turistas e aquela natureza que tomava conta de tudo, resulta em um lugar de uma energia muito boa.
Quando voltamos para o hotel, passamos em uma barraquinha de rua próxima e compramos panquecas de nutella, deliciosas! Aproveitamos um pouco a piscina, e mais tarde saímos para jantar.
Escolhemos um restaurante de comida cambojana, em uma rua paralela à Pub Street que tem muitos restaurantes a preços convidativos. Tem mais cara de restaurantes locais. Experimentamos um lok lak, prato típico cambojano feito com carne e especiarias, estava ótimo!
Terceiro dia: nada menos que Angkor Wat
Um dos dias mais aguardados da viagem!!! Chegou a hora de ir a Angkor Wat. A maior construção de cunho religioso do mundo, um tesouro arqueológico inestimável.
Acordamos antes das 5 horas, mega empolgados! O Alex passou para nos pegar e fomos em direção a Angkor Wat para assistir ao nascer do sol. Na entrada do complexo, filas enormes para comprar o passe de visitação. Até que não demorou muito, dada a quantidade de gente. Eles tiram foto na hora e confeccionam um cartão de visitante.
Ao nos aproximarmos da entrada de Angkor, já havia uma pequena claridade querendo aparecer no horizonte. Dava para ver o vulto das construções, aumentando ainda mais a expectativa! Os melhores pontos de observação, em frente aos dois lagos em frente ao templo, estavam abarrotados. Sério, pensa em muuuita gente! Quem sonha em tirar aquela foto perfeita do amanhecer com o templo refletido na água e nenhum gaiato aparecendo, tem que combinar com seu guia ou motorista para chegar muito, mas muito cedo. Nós acordamos antes das cinco, chegamos antes do sol nascer e já tinha gente amontoada por ali.
Como já esperado, foi espetacular. A mudança de cores conforme o dia vai clareando cria efeitos lindos e Angkor Wat aos poucos vai se mostrando em frente aos nossos olhos. É daquelas cenas de viagem que nenhuma foto é capaz de traduzir, aquele momento que todo seu planejamento se materializa.
Todos foram levados de volta aos seus hotéis para tomar café da manhã. Compramos uns lanchinhos no mercado perto do hotel, e às oito e meia ele nos buscou novamente. Ah, um parêntese sobre a moeda local, os riels. Todos aceitam dólares, em restaurantes, agências, mercados. Mas, no comércio local, se pagar por algo em dólar e tiver que receber troco, ele será dado em riels.
Alex nos buscou novamente no hotel, e agora havia mais um casal na van, cariocas. Partimos então para Angkor Thom.
A primeira parte da visita foi o Prasat Baphuon. Antes de entrar no templo, passamos pelo Portão da Vitória. Há controle de entrada e todos tem que usar calças, bermudas ou saias que tapem os joelhos. Também camisetas com mangas. A carioca que estava conosco cobriu os ombros com uma echarpe, sobre uma regata, e foi barrada! Respeite as regras ou você não entra.
Sentamos em uma sombra atrás de um outro templo ali próximo, o Phimeanakas, e tivemos uma “aula” sobre a construção do complexo de Angkor Thom, os costumes da época, o império Khmer, etc, etc, etc… O Alex não brinca, hahaha!
Seguimos para o Terraço dos Elefantes (usado para cerimônias, pronunciamentos do rei e celebrações) e após, para o Terraço do Rei Leproso (utilizado em fins funerários).
Para terminar: Bayon, o templo com mais de duzentas imagens da face do rei Jayavarman VII, espalhadas em cerca de 40 torres ainda preservadas. Absolutamente incrível! Ainda mais quando observamos que as faces estão dispostas em blocos, e não esculpidas em uma única pedra. Ou seja, um imenso quebra-cabeças! Se diz que, onde você esteja em Bayon, o rei está sempre de olho em você…
Fomos até o local do almoço. O restaurante era bem mais ajeitado do que o do dia anterior, e até conseguimos uma mesa em um salão com ar-condicionado. Só estando lá para saber o valor que tem um ambiente refrigerado!
Hora de conhecer Ta Phrom! Algumas partes estão restauradas, inclusive com painéis mostrando o antes/depois das restaurações, mas as partes mais incríveis e lindas são os templos tomados pelas raízes de árvores gigantes!
Esse templo ganhou muita fama, pois foi locação do filme Tomb Raider, com Angelina Jolie. Os locais falam muito da presença dela e da equipe na cidade. Portanto, é preciso uma dose de paciência com as filas para tirar fotos nos pontos mais simbólicos do lugar, mas vale a pena!
E então, começamos o dia em Angkor Wat e fomos terminar o dia em… Angkor Wat. Agora vamos explorá-lo de perto e por dentro. Pegamos uma fila para subir na parte mais alta do templo. Há controle do número de visitantes lá em cima, e só conforme saem algumas pessoas eles deixam entrar outras.
É impressionante. Se de longe já é impactante, de perto fica mais ainda. É muita riqueza de detalhes, os entalhes na pedra, o baixo-relevo que mostra inscrições, cenas variadas e centenas de apsaras.
Conforme o sol ia se pondo, a luminosidade que batia sobre o templo dava a ele uma cor de bronze. No retorno, ficamos debatendo sobre o que foi mais lindo: o nascer ou o pôr do sol. Realmente difícil escolher. A melhor opção sem dúvida é ver os dois!
Agradecemos demais ao Alex e ao motorista da van pela experiência inesquecível, Siem Reap foi outra com a companhia deles. Para quem puder ter esse gasto na sua viagem, recomendo ao máximo! Uma van que te larga e te pega na entrada das atrações, com ar-condicionado, água geladinha e toalhas úmidas à vontade, e um guia com muito conhecimento e ainda por cima falando português! Isso não é gasto, é investimento!
À noite fomos jantar na Pub Street. Um dos pratos foi um frango com manjericão picante, mas era picante no nível Tailândia… não demos conta. Comemos rolinhos primavera e um outro prato com porco que salvaram a janta.
Quarto dia: Siem Reap rural
Pesquisando as opções para fazer nesse último dia, tomamos conhecimento sobre passeios de quadriciclo na empresa Quad Adventure Cambodia e reservamos um para a manhã desse dia. Tomamos café da manhã no hotel, e nos buscaram antes das 8 horas.
Na sede da empresa eles fazem as orientações de como usar o quadriciclo, e um rápido “teste de direção”. Partimos só nós dois em um quadriciclo e o guia em uma moto.
Após andar uns 5 minutos, o guia parou e perguntou se preferíamos ir em direção aos campos ou subir uma montanha e visitar alguns templos, mas para isso teríamos que ter o passe que usamos em Angkor Wat ou pagar a entrada. Seguimos aos campos, pois nosso passe estava vencido e levamos apenas alguns trocados.
O passeio foi muito legal. Passamos por paisagens bem rurais, campos de arroz enormes e montanhas ao longe, plantações de flores de lótus e muita estrada de terra…
Passamos também por alguns vilarejos bastante isolados, as crianças sempre faziam festa e abanavam para nós. Paramos em um barzinho em um desses vilarejos para tomar uma água, descansamos um pouco e paramos pra observar o lugar. Sabe aquele momento de uma viagem que você se pergunta: “Onde eu vim parar? Eu, brasileiro, atravessei o mundo e estou em um vilarejo absolutamente isolado no interior cambojano. Que louco isso”. Após o momento filosófico, pegamos o caminho de retorno.
Chegamos com nossas roupas completamente cobertas de terra! Recomendo usar roupas e calçados escuros.
Voltamos para o hotel, deu tempo de tomar um banho e terminar de enfiar as coisas no mochilão, já estava na hora do check-out. Nosso voo seria só à noite, então eles deixaram que a gente ficasse utilizando a piscina após o check-out, só tivemos que usar o chuveiro frio da área comum (o que, naquele calor, era bem tranquilo).
Ficamos naquela vidinha difícil de tomar banho de piscina, usar o wi-fi e cochilar. Acabamos até pedindo o almoço ali mesmo…
Mais pro final da tarde, fomos dar mais uma caminhada na Pub Street e arredores, fizemos um lanche, compramos umas lembrancinhas.
Pegamos um tuc-tuc com um dos motoristas que sempre ficava em frente ao hotel para ir ao aeroporto. Tem tuc-tucs por todo o lugar e o tempo inteiro eles ficam oferecendo “Tuc-tuc, Sir?”, “Tuc-tuc, Sir?”. Aliás, isso é uma constante nesses 3 países que visitamos, mas mais ainda no Camboja. O tempo inteiro tem pessoas te oferecendo coisas, te vendendo algo, empurrando algum serviço… é um pouco cansativo, mas não esqueçam que essas pessoas sobrevivem do turismo – sobrevivem no sentido literal, elas não tiram muito mais do que o suficiente para viver. Tenham paciência com elas. Vi algumas pessoas sendo bem grosseiras com vendedores e me pergunto qual é a necessidade disso…enfim.
Demos de gorjeta para o motorista os trocados em riels que tinham sobrado, ele ficou bem faceiro.
Check-in, migração, voo no horário, tudo tranquilo. Fomos embora encantados com o que vivemos em Siem Reap e com o povo cambojano: simpáticos, prestativos, humildes, guerreiros. Aliás, todas as pessoas que nos atenderam desde o tuc-tuc, hotel, até o mercadinho e o restaurante, foram extremamente gentis. É um país de imensa pobreza. E nos recepcionam com um sorriso no rosto que a gente sente que é verdadeiro.
As datas a que se refere este relato compreendem entre 02 e 05 de janeiro de 2016.
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11 de junho de 2020 at 17:11
Adorei esse relato de viagem sobre Siem Reap. Também viajamos para o Camboja e adoramos demais essa cidade. Os templos são belíssimos e a energia no complexo é absurda, ne? Não sabia que tinha passeio de quadricíclo, ual, deve ter sido uma aventura e tanto!
11 de junho de 2020 at 20:59
Verdade, Victoria, a energia lá é incrível.
E o passeio de quadriciclo foi sensacional. Realmente, uma aventura.