Fazer a travessia dos Andes a bordo de um ônibus é uma excelente maneira de desfrutar da beleza da cordilheira. Sabe quando o deslocamento é a atração turística em si? É exatamente assim.

No nosso caso, fizemos a travessia no sentido Mendoza a Santiago. Vou relatar a seguir como foi nossa experiência e dar dicas de como organizar esse deslocamento.

Antes da travessia dos Andes em ônibus (de Mendoza a Santiago)

Para chegar a Mendoza, atravessamos a Cordilheira dos Andes de avião partindo de Santiago, e foi lindo de ver. A travessia sobre a cadeia de montanhas dura uns 15 a 20 minutos, mas é inesquecível.

Mas então, era hora de seguir viagem e retornar a Santiago. Optamos por fazer essa travessia de uma maneira mais demorada, mas que vale por um passeio turístico: de ônibus.

Comprei nossas passagens diretamente no site da Andesmar, uma das empresas que operam neste trecho (a outra é a Cata Internacional). Eles iniciam a venda para cada data com a antecedência de 60 dias, o que é bem importante para pegar um bom lugar no ônibus. Os lugares mais indicados são os do andar de cima, bem na frente do veículo, com todo o janelão à disposição para admirar a paisagem sem obstáculos à frente. Fiz a compra faltando exatos 59 dias da data da nossa viagem, e os assentos da frente no lado direito já estavam ocupados! Felizmente pegamos os remanescentes, do lado esquerdo (assentos 10 e 11). Custaram na época ARS 245 por pessoa. Recebi os tíquetes por e-mail, imprimi e mostramos ao motorista no momento do embarque, junto com o passaporte.

Já que o propósito era curtir os cenários durante o trajeto, era imprescindível fazer essa viagem de dia. Pegamos o primeiro ônibus, com saída às 6:15 da manhã. Unimos o útil ao agradável, pois chegar cedo em Santiago nos permitiu encaixar um voo para Calama no mesmo dia, rumo ao nosso próximo destino desta viagem (San Pedro do Atacama).

Lê também o post sobre o roteiro desta viagem por Mendoza, Atacama, Salar de Uyuni e Santiago.

O ônibus é bem confortável, as poltronas reclinam bastante, mas acreditem: não dá vontade de dormir e perder pedacinho algum das paisagens. Eles servem um cafezinho no início da viagem e dão um kit com um lanchinho. O único porém da empresa é que o motorista colocou umas músicas para o ônibus todo ouvir, em um volume não muito agradável, durante a viagem toda. 🙄

Durante a travessia dos Andes em ônibus (de Mendoza a Santiago)

Partimos e, ainda dentro de Mendoza, notamos umas montanhas que ainda não tínhamos visto. Estávamos na mesmíssima estrada pela qual passamos diariamente nos quatro dias anteriores, e finalmente a visibilidade era boa o suficiente para enxergarmos os picos nevados. Ficamos muito felizes por começar tão bem o trajeto e meio incrédulos com aquele visual.

“São montanhas nevadas que estou vendo?”

Entramos na Ruta 7 e aí ficamos de cara para o chamado Cordón del Plata.

Travessia dos Andes em ônibus (de Mendoza a Santiago)
Cordón del Plata.

O sol começou a nascer e deu uma coloração dourada às montanhas.

Enquanto isso, atrás do ônibus, o sol ia subindo…
Travessia dos Andes em ônibus (de Mendoza a Santiago)
Não tinha como cansar de tanta beleza.

Começamos a entrar nas “entranhas” da Cordilheira, com suas montanhas gigantescas.

Travessia dos Andes em ônibus (de Mendoza a Santiago)

Até o túnel que faz fronteira da Argentina com o Chile, o trajeto foi o mesmo do Tour Alta Montaña, porém sem as paradas, claro.

Após atravessarmos o túnel, chegamos na fronteira e descemos para os trâmites da migração.

Fronteira Argentina – Chile
Travessia dos Andes em ônibus (de Mendoza a Santiago)

O próprio motorista do ônibus guiou todos os passageiros nas filas por onde deveríamos passar. Depois dos carimbos no passaporte, ainda passamos pela inspeção das bagagens. Tivemos que descer do ônibus com tudo (bagagens de qualquer tamanho) e o fiscal revisou dentro do veículo pra ver se não deixamos nada.

Um dos procedimentos da migração chilena é preencher uma declaração de que não estamos entrando no país com produtos de origem vegetal ou animal, especialmente frutas frescas – não levem frutas frescas de jeito nenhum! No mais, na dúvida, declarem o que vocês estão levando, o máximo que vai acontecer é eles mandarem jogar fora. Eu estava levando um sanduíche de presunto e queijo, informei na declaração e o fiscal deu até uma risadinha do que eu escrevi 😀 . Eu disse que tinha achado melhor declarar, e ele respondeu que eu estava certa. Se eles pegam algo que não deve entrar e que não foi declarado, aplicam multa!

Tivemos que colocar todos nossos pertences em uma mesa e eles trouxeram um cão farejador. Era um golden retriever coisa mais fofinha! Havia uma mulher com sua filha de uns 10 anos, no momento em que o cachorro subiu na mesa onde estavam as bagagens a menina gritou um “óóówwwnnn” e se abraçou no bicho! Foi muito engraçado! A mãe dela a puxou para trás e o cachorro pôde fazer o seu trabalho. Depois, ainda passamos tudo pelos equipamentos de raio-x.

Nesse trâmite todo, levamos aproximadamente uma hora. Há uns quiosques por ali vendendo lanches, bebidas etc, aproveitamos para tomar um café e gastar nossos últimos trocados de pesos argentinos (eles também aceitam pesos chilenos).

Logo após a fronteira, vimos as placas indicando a Laguna del Portillo. Passamos muito rápido e mal deu tempo de vê-la.

Laguna del Portillo ao longe, com sua água de bonito tom azul.

Logo em seguida, vem um dos trechos mais impressionantes da viagem – ou melhor, O mais impressionante: a sequência de curvas conhecida como Los Caracoles.

O ônibus vai descendo devagarinho, na beira dos barrancos a cada curva. É sensacional!

Travessia dos Andes em ônibus (de Mendoza a Santiago)

Depois disso, ainda temos cerca de duas horas de chão até chegar em Santiago, mas o cenário segue lindo. À medida que nos aproximamos da cidade, vão aparecendo enormes parreirais das muitas vinícolas da região.

Final da travessia dos Andes em ônibus (de Mendoza a Santiago)

Chegamos no horário previsto, 13:15. Bastante trânsito dentro da cidade de Santiago e mais ainda para entrar no terminal rodoviário. Tivemos tempo de sobra para trocar uns pesos chilenos, ir até o aeroporto e almoçar, pois nosso voo era somente às 18 horas. É altamente recomendável deixar um bom tempo de folga pois na travessia podem ocorrer atrasos – bloqueios parciais ou totais na estrada, filas gigantescas na migração, etc, mas no nosso caso deu tudo certo.

Apesar do ônibus ser de uma empresa de transporte “normal”, o percurso valeu como um passeio turístico. As paisagens são de tirar o fôlego e, mesmo não tendo a liberdade de parar onde dava vontade, valeu demais a experiência.


Essa viagem foi realizada em 19/01/2018.


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